Equipamentos da academia do traficante Peixão serão levados para a Cidade da Polícia em benefício dos agentes

Operação no Complexo de Israel mira os imóveis de luxo do traficante, como um resort com lago artificial. Polícia chega a ‘resort’ de Peixão
O chefe da Polícia Civil do RJ, Felipe Curi, informou que os equipamentos de musculação da academia do traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe da facção Terceiro Comando Puro (TCP), serão levados, por ordem judicial, para a Cidade da Polícia, onde serão usados por policiais.
Os aparelhos são de última geração. E o prédio onde ficava a academia será demolido na operação que acontece nesta terça-feira (11) no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio.
As investigações indicam que o local era um dos pontos de encontro dos traficantes.
Equipamentos da academia de Peixão serão usados por policiais
Reprodução/TV Globo
A ação mira os imóveis de luxo do traficante, entre eles, um “resort” em Parada de Lucas, um espaço com um lago privado para a criação de carpas e com piscinas.
Os peixes que ornamentavam o lago foram resgatados e serão levados para um criadouro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
O “Resort Green”, como é chamado, é demolido com a ajuda de máquinas da Polícia Militar que são usadas na destruição de construções ilegais. A estrutura conta com piscina, espaço para churrasco e ambientes climatizados.
A investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) aponta que a mansão, construída com dinheiro ilícito, serve de base para armazenar armas e drogas.
Polícia desmantela 'resort' usado por traficantes em Parada de Lucas
Reprodução/ TV Globo
De acordo com a Polícia Civil, o “resort” de Peixão foi construído irregularmente em área de preservação ambiental, com vasta supressão de vegetação nativa e alteração do curso d’água.
“A gente tem que dar um tratamento mais rigoroso, incisivo e contundente contra estes narcotraficantes, que são, na verdade, narcoterroristas que atiram contra a população para fazer cessar a operação policial”, declarou o delegado Felipe Curi, secretário de Polícia Civil.
A operação teve 4 pessoas presas, entre elas 2 foragidos com mandados de prisão em aberto, um homem flagrado com uma moto roubada e outro com um rádio e coquetel molotov.
Vinte mandados contra Peixão
Peixão não tem registro oficial de prisão nos arquivos da polícia. Sua primeira anotação criminal foi em 2015, num relatório que já o tratava como novo chefão de Parada de Lucas. Hoje são pelo menos 50 registros em sua folha, com cerca de 20 mandados de prisão por crimes como tráfico, homicídio, tortura, assaltos e ocultação de cadáver.
“O crime de terrorismo tem a ver com questões políticas ou religiosas. No caso do Peixão, sabemos que ele impõe uma ditadura religiosa, ele não permite certos tipos de crenças ou religiões. Ele expulsa pessoas que possuem religiões afro, candomblé, espiritismo, enfim, tudo o que não tiver com a crença que ele acredita. Não podemos permitir isso”, explicou Curi.
Resort do tráfico em Parada de Lucas
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Homens do Batalhão de Choque avançam pelo Complexo de Israel
Reprodução/TV Globo
Quem é Peixão
Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, é o chefe do Terceiro Comando Puro (TCP), facção do tráfico que rivaliza com o Comando Vermelho (CV) nas disputas de território no Rio de Janeiro. Peixão é, hoje, um dos criminosos mais procurados do estado — jamais foi preso.
O traficante domina o autointitulado Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, que compreende a Cidade Alta, Parada de Lucas, Vigário Geral, Cinco Bocas e Pica-pau. Símbolos como a Estrela de Davi e a bandeira israelense estão espalhados pelas favelas.
O poderio bélico é outra característica desse conjunto de comunidades do TCP. Os comandados de Peixão têm arsenal e munição suficientes para sustentar horas de confronto.
O império de Peixão começou em meados de 2016, logo após a Olimpíada, quando houve a invasão à Cidade Alta. Os domínios do TCP foram aumentando até que, na pandemia, o Complexo de Israel foi estabelecido — e controlado com mão de ferro.
Peixão, por exemplo, determinou a instalação de câmeras pelas comunidades, mandou construir pontes entre as favelas e teve problemas com uma igreja católica da região que culminaram no fechamento do templo religioso.
Antes de se tornar Peixão, Álvaro era conhecido como Alvinho. Criado pela mãe, umbandista — que recebia santo (o Erê) vestida de branco —, ele comia pipoca e doces de criança na esquina da Avenida Brasil.
Mas ele se tornou evangélico e, na esteira da conversão, veio a intolerância religiosa. Terreiros foram proibidos e imagens de santos, retiradas do Complexo de Israel.
O traficante já foi investigado por ordenar ataques a terreiros de religiões de matriz africana, através da atuação do Bonde de Jesus em Duque de Caxias, onde nasceu. Ele mesmo pregava em uma igreja evangélica no município, como contou o g1 em 2019.
Polícia faz operação no 'resort' de Peixão, no Complexo de Israel
Divulgação/Polícia Civil
Polícia encontra casas de Peixão no Complexo de Israel
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Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão
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